sábado, 30 de novembro de 2013

Medianeras

Hoje resolvi postar sobre um filme muito bom que me fez refletir muito sobre a arquitetura que queremos e a que estamos deixando de fato construída na cidade. Medianeras é um filme argentino que vai muito além de contar a história de um casal e propõe uma profunda reflexão sobre a era digital e suas consequências.
Uma coisa que sempre pensei é que a arquitetura deve servir como um cenário, sendo ele completamente mutante de acordo com os pontos de vista, as vontades. A história é um dos principais pontos da arquitetura: deixar com que ela flua, contá-la através das marcas do tempo, mudá-la. É isso que faz com que a forma deixe de ser um invólucro impermeável, uma forma inabitável, e a transforma num organismo vivo.
Outro dia estava assistindo ao documentário "Sketches of Gehry" e algo que realmente me impressionou foi a relação de paternidade que Frank assume com suas construções, a preocupação de criar uma arquitetura que se adapte bem à sociedade, ao clima e à própria técnica construtiva utilizada é um fato realmente admirável em seu trabalho. Só depois de um ano, Gehry diz que "corta o cordão umbilical" com suas criações, quando tem segurança que se adaptaram bem as questões mencionadas anteriormente, que saberão "se virar sozinhas".
O autor de Medianeras diz que o filme trata de "uma solidão a que já estamos acostumados. De todos os dias. Solidão urbana. A solidão que sentimos quando estamos rodeados de desconhecidos". Uma sociedade de Wallys tentando se encontrar impedidos por muros invisíveis. Começo assim a pensar no traço do arquiteto, no impacto que cada decisão causa no espaço urbano. Uma empena cega é muito mais do que uma parede enorme sem janelas, ela funciona como uma espécie de catraca, de muro, uma enfermidade urbana. Bloqueio.
Como estudante de arquitetura, não posso deixar de acreditar no papel fundamental que ela possui. A vontade de traduzir em um pequeno espaço de mundo a visão que você tem dele. Criar seu próprio mundo. Inventar histórias. Amenizar o quão dura a vida pode ser. Espalhar por todo o canto um pouco do que você é. A poética por trás do conceito da profissão é completamente encantadora, por que não transparece-la no que produzimos?
A arquitetura produzida atualmente na cidade do Rio de Janeiro transparece alguns valores preocupantes da sociedade contemporânea. A funcionalidade imposta com certa violência sobre a estética. A tecnologia imposta com certa violência sobre a humanidade. A superficialidade, o dinheiro. A arquitetura: um raio-x da sociedade. Não dá para disfarçar o desleixo, a preocupação com o menor orçamento, a vontade de um "empreendimento imobiliário" muito mais que um lar.
A arquitetura solitária. O ser humano superficial. A arquitetura superficial. O ser humano solitário. O concreto. A poesia. A arquitetura transparente. O homem cordial.




sábado, 20 de abril de 2013

Casa da Cascata - Frank Lloyd Wright

A Casa da Cascata, localizada na Pennsylvania e projetada por Frank Lloyd Wright, em 1939, é uma das residências que se tornaram ícones da Arquitetura e constituem até os dias de hoje uma fonte de inspiração para os novos arquitetos.

Casa da Cascata / Frank Lloyd Wright


O ponto focal dessa residência é a implantação; construída à partir da sua integração com um rio que passa pelo terreno, tinha como principal proposta a sensação por parte dos moradores da força que vem do rio, não apenas visualmente, mas também pelo som que ecoa por toda a casa.

O desenho do projeto foi inteiramente desenvolvido ao redor do espaço de reunião da família, a lareira. A base da casa é feita por rochas que se elevam do terreno, onde algumas superam o nível inferior e aparecem junto à lareira, trazendo o exterior para o interior e criando um núcleo vertical, que acaba sendo reforçado pela torre da chaminé, o ponto mais alto da casa.

 

A residência é constituída por duas partes: a casa principal dos clientes, construída entre 1936 e 1938, e o quarto dos hóspedes, finalizado em 1939. A casa original, formada por ambientes simples como uma sala de estar ampla e uma cozinha compacta no nível térreo; uma suíte principal, muito ampla, no segundo andar e no terceiro, um ambiente de estudo e o quarto do filho do cliente, Edgar Kaufmann.
Todos os ambientes da casa estão intimamente relacionados com o entorno natural. No pavimento térreo, uma escada conduz diretamente a sala de estar ao riacho. A circulação no interior da casa é realizada por meio de corredores estreitos e escuros, pensados para que os moradores tenham uma sensação de fechamento e acolhimento, se compararem com à abertura proposta à medida em que se aproximam dos ambientes principais.


A beleza desses espaços é evidenciada em suas extensões à natureza, realizadas com grandes varandas em balanço. Projetadas em ângulos retos, são elementos que garantem uma monumentalidade à casa e que vão muito além de sua função. Para a estrutura das varandas, Wright trabalhou com dois engenheiros, Mendel Glickman e William Wesley Peters. A solução encontrada foram os materiais empregados, assim a casa tomou uma forma de alvenaria definitiva, para mais uma vez, se relacionar com o lugar, enquanto as varandas são de concreto armado.

A horizontalidade proposta pelo exterior da construção, é assim destacada pela presença das pedras e tijolos e principalmente pelas varandas que avançam sobre o rio. As janelas também apresentam uma condição especial, já que se abrem também nas esquinas da casa, procurando romper a configuração de caixa e permitindo a incorporação da natureza.


A perfeição nos mínimos detalhes da obra faz com que ela ultrapasse os limites de sua forma e estabeleça uma relação fundamental, que às vezes passa esquecida pelos arquitetos modernos, a relação harmônica entre arquitetura e natureza, onde a presença física e espiritual do homem se faz mais transparente.

Mais informações em: http://www.fallingwater.org/ e http://www.archdaily.com.br

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Daniel Libeskind - Museu Judaico em Berlim



"Ever since I began architecture, I had an abhorrence to conventional architecture offices. There was something about the atmosphere of redundancy, routine and production that made me allergic to all forms of specialization and so-called professionalism. Ten years ago we founded our office in Berlin as a result of a decision, an accident, a rumor on the street and began an unimaginable journey down a path on which we are still traveling."
Daniel Libeskind: The Space of Encounter.

Daniel Libeskind, é sobrevivente e filho de pais judeus perseguidos pelo holocausto em uma Polônia pós-guerra. Assim, migrou com sua família para Israel quando tinha 11 anos, e, dois anos mais tarde, para os Estados Unidos.
Após completar sua formação em música em Nova Iorque, Daniel decidiu trocar a música pela arquitetura e ingressou na Cooper Union for the Advancement of Science and Art New York City.
Libeskind, teve grande destaque com seu projeto para o Museu Judaico em Berlim, uma obra que traduz uma série de reações de uma arquitetura que tem voz e fala por si só.
A implantação, completamente irregular, passa curiosidade ao visitante, que não consegue ver o principal acesso à construção.
 O museu é formado por três eixos principais: o Eixo do holocausto, o Eixo do exílio e o Eixo da continuidade. A torre do holocausto, uma sala fechada feita inteiramente de concreto, que possui paredes incrivelmente densas e grandes, um teto elevado a mais de 20 metros e apenas um feixe de luz que constitui a única abertura do ambiente, transmite uma sensação incrível de desconforto e introspecção, onde qualquer sussurro ecoa fortemente..



No eixo do exílio, prismas de bases quadradas, compridas e inclinadas, formam um quadriculado de pequenas torres que possuem no topo, vegetação. Nesse espaço escuta-se o som da cidade e outra sensação vem a tona: a paz.


O Eixo da continuidade é o maior dos 3 eixos. Uma enorme escadaria introduz o ambiente. Quando se começa a subir, podem ser vistas vigas de concreto, inclinadas, que rasgam o corredor transversalmente, como se furassem de um lado ao outro a pele do museu.


A escadaria possui três patamares, cada um com uma sala, onde a primeira constitui um espaço fechado, com o pé direito alto e uma clarabóia que o ilumina levemente. O piso inteiramente coberto por peças redondas de ferro com um rosto esculpido, permite com que venha à tona a última e mais forte sensação do visitante: a dor.


A Arquitetura de Libeskind utiliza-se de uma linguagem de ângulos imponentes, geometrias que se interceptam, fragmentos, vazios e linhas picadas de uma forma magnífica. O trabalho com a luz é a característica que mais me impressiona no trabalho do arquiteto, que projeta uma arquitetura que não se contenta em fazer parte do ambiente ou contar uma história, mas sim, transmitir sensações que acabam por estruturarem os edifícios por si só.
 

fonte: http://www.ignezferraz.com.br/