Uma coisa que sempre pensei é que a arquitetura deve servir como um cenário, sendo ele completamente mutante de acordo com os pontos de vista, as vontades. A história é um dos principais pontos da arquitetura: deixar com que ela flua, contá-la através das marcas do tempo, mudá-la. É isso que faz com que a forma deixe de ser um invólucro impermeável, uma forma inabitável, e a transforma num organismo vivo.
Outro dia estava assistindo ao documentário "Sketches of Gehry" e algo que realmente me impressionou foi a relação de paternidade que Frank assume com suas construções, a preocupação de criar uma arquitetura que se adapte bem à sociedade, ao clima e à própria técnica construtiva utilizada é um fato realmente admirável em seu trabalho. Só depois de um ano, Gehry diz que "corta o cordão umbilical" com suas criações, quando tem segurança que se adaptaram bem as questões mencionadas anteriormente, que saberão "se virar sozinhas".
O autor de Medianeras diz que o filme trata de "uma solidão a que já estamos acostumados. De todos os dias. Solidão urbana. A solidão que sentimos quando estamos rodeados de desconhecidos". Uma sociedade de Wallys tentando se encontrar impedidos por muros invisíveis. Começo assim a pensar no traço do arquiteto, no impacto que cada decisão causa no espaço urbano. Uma empena cega é muito mais do que uma parede enorme sem janelas, ela funciona como uma espécie de catraca, de muro, uma enfermidade urbana. Bloqueio.
Como estudante de arquitetura, não posso deixar de acreditar no papel fundamental que ela possui. A vontade de traduzir em um pequeno espaço de mundo a visão que você tem dele. Criar seu próprio mundo. Inventar histórias. Amenizar o quão dura a vida pode ser. Espalhar por todo o canto um pouco do que você é. A poética por trás do conceito da profissão é completamente encantadora, por que não transparece-la no que produzimos?
A arquitetura produzida atualmente na cidade do Rio de Janeiro transparece alguns valores preocupantes da sociedade contemporânea. A funcionalidade imposta com certa violência sobre a estética. A tecnologia imposta com certa violência sobre a humanidade. A superficialidade, o dinheiro. A arquitetura: um raio-x da sociedade. Não dá para disfarçar o desleixo, a preocupação com o menor orçamento, a vontade de um "empreendimento imobiliário" muito mais que um lar.
A arquitetura solitária. O ser humano superficial. A arquitetura superficial. O ser humano solitário. O concreto. A poesia. A arquitetura transparente. O homem cordial.

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